Considerações sobre fatores de risco

Considerando os conhecimentos atuais sobre a aterosclerose, que são multifatoriais, havendo inter-relação entre os fatores que interagem no processo instalado, velocidade de evolução, progressão, evolução clínica, grande número de evidências indicam que se deva dar ênfase aos diversos fatores de risco, como os antecedentes familiares positivos, o aumento do nível do colesterol sangüíneo os níveis de pressão arterial, o fumo excessivo, a vida sedentária, ausência de exercícios físicos adequados, o controle do peso do indivíduo, controle da glicemia nos diabéticos.

Numerosas populações estudadas mostraram que uma elevada concentração de colesterol total ou LOL-colesterol no plasma constitui um maior fator de risco para o aparecimento da aterosclerose. Além disso, nas desordens monogênicas, as famílias estudadas revelaram um maior incremento de risco de doença vascular, afetando diversos integrantes seus. No entanto, no tratamento da hiperlipoproteinemia têm sido emitidas controvérsias, principalmente por causa da redução dos lipídios plasmáticos, não tendo sido prospectivamente demonstrado o prolongamento da vida ou a eliminação das complicações clínicas da aterosclerose. Em 1984, os resultados da Lipid Research Clinic Coronary Primary Prevention Trial, num estudo duplo-cego, assinalaram fortes evidências de que a redução das concentrações de LOL plasmáticas podem reduzir o risco de doença coronariana (Lipids Research Clinics programs).

A aterosclerose, de acordo com estatísticas, é rara nos povos cuja alimentação é pobre em colesterol, pois a alteração no metabolismo do colesterol é um dos fatores desencadeantes de aterosclerose, em que ocorre modificação na camada íntima, na camada elástica e na camada média das artérias. Atualmente, além da forma arteriosclerose lipidogênica focal, há uma outra forma – a arteriosclerose difusa, esclerosante, fisiológica, não-lipidogênica, que seria condicionada por fatores não bem identificados no homem, experimentalmente relacionados com a nutrição vital no funcionamento da parede arterial.

A placa ateromatosa é constituída de várias substâncias, como o colesterol, ácidos graxos, lipoproteínas, depósitos de cálcio, glicídios complexos, tecido cicatricial fibroso e sangue, existindo diversas teorias e estudos publicados para melhor esclarecimento deste capítulo tão importante da patologia vascular. A aterosclerose pode atingir vários vasos sangüíneos arteriais, sempre com danos gravíssimos. Brusis e MacGandy, numa adaptação de trabalhos de outros autores, classificam os fatores conhecidos que aumentam o risco de cardiopatia coronariana em três grupos:

Grupo I: não passível de prevenção: sexo, idade (risco aumentado com a idade avançada), história familiar (positiva para vasculopatia precoce), certos biótipos;

Grupo II: em que existem associações de entidades patológicas: hipertensão arterial, diabete, obesidade, hiperlipoproteinemias, hiperuricemia e gota;

Grupo III: causada principalmente pela c,ultura e meio ambiente: hábitos alimentares (ingestão elevada de colesterol), lipídios saturados, sacarose, enzimas, hábitos sedentários, fumo, ingestão excessiva de café.

Na obesidade ocorrem perturbações metabólicas dos glicídios, proteínas e também das nucleoproteínas, face a grande interdependência entre obesidade e gota. Na obesidade, costuma ocorrer grande aumento da síntese hepática da pré-beta, uma hiperlipidemia do tipo IV com acentuado aumento dos triglicerídios. Assinalase a prevalência da arteriosclerose nos obesos, principalmente da doença coronariana isquêmica (quatro a cinco vezes maior que na população de peso normal). O capítulo referente à obesidade e ao diabete sacarino tem merecido atenção pelo fato de hiperlipidemia achar-se freqüentemente associada a estes dois estados, devendo ser assinalado que nem todos os diabéticos e obesos são hiperlipidêmicos. O Prof. Isaac Waissman relata que em 6.500 obesos em tratamento no Serviço de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, encontrou em cerca de 34% dos obesos com mais de 20% de peso acima do peso teórico, hiperlipidemia do tipo lipoproteínas de baixa densidade, caracterizada pelo aumento dos triglicerídos endógenos e associada à hiperuricemia e aterosclerose coronariana. O mesmo professor relata que o diabete do tipo essencial no adulto, estável, em 60% dos casos acompanha-se de obesidade.

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