Creatina pode construir músculos?

…uma equipe de especialistas da Academia Americana de Medicina Esportiva concluiu que não existem evidências de que os suplementos de creatina aumentem a força aeróbica do músculo.

NEW YORK –Muitos competidores mundiais, amadores e mesmo atletas adolescentes usam a creatina, um suplemento disponível em lojas de comida natural, como tentativa de construção de massa muscular.
Agora uma equipe de especialistas da Academia Americana de Medicina Esportiva concluiu que não existem evidências de que os suplementos de creatina aumentem a força aeróbica do músculo.

Mesmo que os suplementos dietéticos de venda livre sejam vistos de forma geral como seguros, eles não são para qualquer pessoa e se utilizados em excesso podem potencialmente causar danos, de acordo com um artigo na edição de março da Medicine and Science in Sports and Exercise.

“Eles são vistos como relativamente seguros por serem compostos naturais, mas muitos nutrientes naturais ou mesmo essenciais podem causar problemas se consumidos em excesso – e um dos achados neste artigo é que as grandes quantidades que são usualmente consumidas não são necessárias, mesmo se você espera pelos benefícios,” disse o Dr. Ronald L. Terjung, um professor de ciência biomédica da Universidade de Missouri. Terjung foi um dos doze peritos que se encontraram em Indianápolis em 1999 para verificar os possíveis efeitos colaterais da creatina, assim como o impacto desta sobe os níveis de energia, desenvolvimento e performance muscular. A equipe revisou centenas de artigos sobre o assunto.

Eles concluem que a creatina pode aumentar a retenção de água nos músculos – desta forma dando a sensação e aparência de aumento dos músculos – mas que não tem função no levantamento de peso como forma de aumentar a força muscular.

O suplemento pode ajudar pessoas com doenças neuromusculares, e pode resultar em “pequena mas significativa” melhora na performance em condições muito específicas de exercícios. Contudo as grandes expectativas dos usuários da creatinina parecem ser “descabidas” dado o fato de o efeito ser tão pequeno. A equipe concluiu que o suplemento não traz benefícios aeróbicos em geral.

A equipe também encontrou que muitos relatos de problemas musculares, gastrointestinais e cardiovasculares – incluindo náusea, diarréia, desidratação, hipertensão e cãibras – associados com a creatina, apesar de que não existem evidências definitivas de que a creatina é um suplemento não seguro ou arriscado.

Contudo, a equipe também enfatizou que os dados incompletos e insuficientes a respeito da creatina e “nossa falta de informação não podem ser tomadas como garantia de que a suplementação com creatina é livre de riscos para a saúde.”

A creatina não poderia ser utilizada diretamente antes do exercício, ou por mulheres grávidas ou amamentando ou por crianças pequenas, concluíram os especialistas.

Em entrevista à Reuters Health, Terjung observou que os atletas devem em geral ter cautela quando usarem creatina porque, como um suplemento dietético, seu uso e seus conteúdos não são regulados pela FDA (órgão americano que regulamenta a fabricação de medicamentos e alimentos).

“Você está confiando nos responsáveis pelo controle de qualidade da companhia que fabrica o produto, porque não existem processos de revisão como existem com relação a medicamentos na FDA,” ele disse.

Além disto, Terjung disse que mesmo se a creatina se provar segura, não está claro se é ético usar substâncias que aumentem a performance.

“Este é realmente o ponto,” ele disse. “Não está claro se a creatina causa algum benefício – mas em esportes a impressão é a coisa mais importante, mais do que os fatos reais. E a impressão hoje é que dá o veredicto. E a questão é – devem os valores do trabalho árduo e os ideais de competição serem substituídos por ‘dê-me um jeito fácil para que eu possa fazer melhor’?

FONTE: Medicine and Science in Sports and Exercise 2000;32:706-717.
Publicado em Bibliomed Saúde em 18/04/2000

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